O sistema de produção company-specific (ou company-specific production system ou ainda XPS) da Chrysler é o conceito de fabricação de classe mundial (WCM), desenvolvido pelo grupo Fiat em 2006. Mas, o que exatamente é o WCM? E, o que a Chrysler vê como pontos fundamentais para o sucesso no WCM?

Algumas respostas foram dadas na 4ª conferência anual do Lean Management Journal em Birmingham, no Reino Unido. Em sua apresentação, Mauro Pino, Vice-Presidente de operações de montagem de veículos e chefe global de “World Class Manufacturing” no Grupo Chrysler, explica como a empresa “atingiu a excelência em fabricação em todo o mundo”. Pino disse que “a WCM é como nós fazemos o nosso negócio”. A apresentação mostrou dados das fábricas da WCM no Brasil, Espanha e Suécia, o que confirmou que a WCM pode ser um poderoso sistema de melhoria – se implementado seriamente. Vamos dar uma olhada no conceito de WCM.

O desenvolvimento da World Class Manufacturing

A WCM foi desenvolvida pela Fiat e empresas parceiras em 2005. Hajime Yamashina, professor emérito na universidade de Kyoto no Japão, desempenhou um papel fundamental. (Vale ressaltar que o conceito WCM de Fiat não é idêntico ao famoso livro de Richard Schonberger, de 1986, com o mesmo nome). Desde o início, todas as empresas do grupo Fiat participaram da nova jornada para a excelência operacional. Conseqüentemente, a WCM foi lançada nas divisões de automóveis e de powertrain na Fiat, na Maserati, na Lancia, na Alfa Romeo, e assim por diante. As empresas proprietárias da Fiat CNH (fabricante de equipamentos agrícolas Case e tratores New Holland) e o fabricante de caminhões e motores Iveco também usam a WCM como XPS. De fato, hoje, empresas tão variadas como o Royal Mail (correio britânico), a Ariston (fabricante de produtos da linha branca), a Unilever (bens de consumo), a Atlas Copco (ferramentas industriais), Barilla (massas) e 12 empresas de transporte diferentes, usam o conceito de WCM.

O Grupo Chrysler aderiu à WCM quando a Fiat adquiriu ações majoritárias em 2009 (como conseqüência da crise financeira que conduziu a Chrysler à falência). Hoje, a Chrysler é conhecida como o Comeback Kid (uma tradução seria de alguém que se recupera após uma queda, algo como o filho pródigo). A incrível transformação é parcialmente creditada ao WCM como um programa de mudanças. Um ponto forte da escolha da WCM como um “XPS” já pronto e disponível é que as empresas que se juntam obtêm o benefício de uma referência de classe mundial das outras empresas participantes. Hoje, 166 fábricas em 16 países são parceiros ativos na Associação WCM Mundial. Trinta destas são plantas Chrysler, enquanto 45 pertencem à Fiat.

Como é composto o sistema de World Class Manufacturing

O sistema WCM é composto por dez pilares técnicos e dez gerenciais, ilustrados como um templo (veja abaixo).

Os dez pilares técnicos são os seguintes:

1) Safety (Occupational safety) – Segurança (Segurança no Trabalho)
2) Cost Deployment (Distribution of Costs) – Gestão de Custos  de Implantação (Distribuição de Custos)
3) Focused Improvement – Foco na Melhoria (ou Foco na Melhoria Contínua)
4a) Autonomous Maintenance – Manutenção Autônoma
4b) Workplace Organization – Organização do Chão de Fábrica
5) Professional Maintenance – Manutenção Profissional
6) Quality Control – Controle de Qualidade
7) Logistics & Customer Service – Logística e Atentimento ao Cliente
8) Early Equipment Management – Gestão Antecipada (de problemas) de Máquinas (projeto e fabricação de máquinas)
9) People Development – Capacitação dos Operadores
10) Environment (and Energy) – Meio Ambiente (e Gestão Energética)

E os dez pilares gerenciais são:

1) Management Commitment – Compromisso da Gerência
2) Clarity of Objectives – Objetivos Claros (onde queremos chegar com isso?)
3) Route map to WCM – Mapa de Rota para WCM (qual a melhor sequencia de ações na adoção dos princípios)
4) Allocation of Highly Qualified People to Model Areas – Colocação dos Melhores Operadores em Áreas Modelo
5) Commitment of the Organization – Compromisso de Toda a Organização
6) Competence of Organization towards Improvement – Competência da Organização para Implantar Melhorias
7) Time and Budget – (Investimento de) Tempo e Orgamento
8) Level of Detail – (Detalhamento) Nível de Detalhe (até onde vamos nos aprofundar nisso?)
9) Level of Expansion – Nível de Expansão (até onde vamos com isso?)
10) Motivation of Operators – Motivação dos Operadores

Principais características do conceito World Class Manufacturing

O pilar do Gestão de Custos de Implantação é de particular interesse porque difere do XPS típico (veja o artigo anterior para saber o que é XPS e o que é “típico”). A Gestão dos Custos de Implantação é uma técnica financeira de sete etapas para atribuir custos reais a cada perda e desperdício que ocorre em uma fábrica. Desta forma a priorização de qual perda deve ser atacada primeiro pode ser feita através de uma análise econômica. Uma outra vantagem da Gestão de Custos na Implantação é que todo o trabalho de melhoria no processo produtivo é atrelado a uma de economia real. Isso motiva novas melhorias e é o melhor argumento para convencer os céticos e incrédulos. Para fazer a Gestão de Custos de Implantação adequada será necessário reunir pessoas de contabilidade, finanças e operações.

Outra característica importante do conceito WCM é que a mudança sempre começa em uma área modelo. As áreas modelo são pilotos para a implementação dos princípios. Por exemplo, a fábrica tipicamente escolhe a máquina mais desfavorável ( que “produz” mais perdas)  como uma máquina modelo para o pilar de manutenção autônoma. Através de um projeto dedicado, usando as ferramentas e técnicas do WCM, esta máquina modelo é “trazida de volta à condição básica” e se torna (é o que se espera) a máquina de melhor desempenho na planta. Os pontos de aprendizado e as boas práticas são posteriormente compartilhados com o resto da planta. No entanto, essa é uma maneira desafiadora de implementar um XPS; você arrisca-se a fazer “ilhas de excelência” que fazem pouco bem para o desempenho geral da planta. Acho que é aí que a Gestão de Custos de Implantação (onde é melhor financeiramente, e não só tecnicamente, investir) vem novamente e garante que as práticas sejam espalhadas.

Uma terceira característica interessante no WCM é o “conceito de zero”. Um gerente aqui do Brasil explicou: “Você não pode discutir com zero; uma vez que você sugere outro alvo, você entrará em todos os tipos de discussões infrutíferas “. O objetivo do WCM é zero de resíduos, zero defeitos, zero falhas e estoque zero. As áreas modelo devem provar a realização de zero por várias semanas antes das soluções serem espalhadas.

Para a Chrysler a mais recente estratégia da WCM é um foco forte na educação. Para esse fim, a Chrysler construiu uma academia de fabricação de classe mundial (WCMA World Class Manufacturing Academy) em Warren, Michigan. A WCMA é um centro de treinamento de última geração para todos os funcionários da Chrysler, aproveitando a tecnologia moderna e os conhecimentos mais recentes sobre treinamento prático. Como 70% da força de trabalho da Chrysler nos Estados Unidos trabalha na proximidade da Academia, muitas plantas podem financiar o envio de seus funcionários para treinamento em Warren. A ideia é que as plantas devem ter uma Gestão de Custos de Implantação para identificar áreas de melhorias e, em seguida, enviar funcionários para treinamento específico em ferramentas e técnicas necessárias – e não apenas treinamento geral.

O WCM não é um programa de melhoria estático, do tipo “nunca muda”. Em 2010, foi introduzido um sub-pilar da energia no pilar do ambiente “para melhorar a capacidade de identificar e implementar medidas para reduzir o desperdício e alcançar uma maior eficiência energética“. Obviamente, um programa de melhoria de produção também pode contribuir para um bem maior!

Esse artigo foi baseado no original de Torbjørn H. Netland com o título “The World Class Manufacturing programme at Chrysler, Fiat & Co.” e o você pode ler o texto no original clicando aqui.