– Opa, peraí, isso é impossível!!… Todo mundo sabe disso!!…

– Ah é? E se eu disser que muitas vezes, quando começamos a monitorar a linha de produção encontramos OEE acima de 100%?

– O que você me diz? “Isso pode Arnaldo?”

– Poder não pode, mas porque acontece então?

Existe um erro de avaliação muito comum quando se faz a análise dos dados da produção e isso gera tantas distorções que as vezes é preferível nem medir e analisar porque isso mais atrapalha que ajuda. É melhor nenhum mapa do que um mapa errado. Sem mapa você tem, pelo menos, a chance de usar sua experiência e quem sabe achar o caminho certo.

– Tá bom, chega de blá, blá, blá e diz como é possível OEE acima de 100%.

– Ok, calma, eu vou explicar.

O grande problema é o nível do sarrafo muito baixo. Se o sarrafo for baixo você também poderá ganhar medalha de ouro no salto em altura na próxima olimpíada. É claro que muita gente vai ganhar também, alguns milhões de pessoas que puderem ir ao estádio disputar com você.

Não é possível aumentar a disponibilidade para além de 100% certo? Uma máquina não pode estar mais disponível do que já esta. O mesmo acontece com  a qualidade, como um produto pode ter uma qualidade de 110%?

Bom então fica claro que o problema só pode acontecer no item que faltou para compor o OEE certo? E esse é o desempenho, a gente mede o desempenho em relação a uma referência que chamamos de tempo padrão ou ciclo de máquina, que é o tempo que esperamos que a máquina irá produzir cada produto, esse tempo é o ideal (só existe no mundo das ideias) na prática (no mundo real) tem que ser menor, senão…

O que acontece é que com o passar do tempo e sem informação precisa os gestores de produção vão “aliviando a vida” das máquinas, vão exigindo menos a cada dia e a produção vai diminuindo o desempenho de forma quase impreceptível. Como não é possível saber o que esta acontecendo todos vão se adaptando a um sarrafo mais baixo, mesmo que a máquina e os operadores possam produzir mais. Isso vai criando um novo padrão de cobrança cada vez menor.

Ou seja, o tempo padrão que representa o ciclo de produção vai aumentando aos poucos e ninguém percebe até o momento em que instalamos o Kite MES e começamos a monitorar em tempo real. Como as máquinas e operadores são mais eficientes do que é exigido, quando começamos a medir utilizando como referência o tempo padrão que foi passado o desempenho aparece como uma super produção (não de cinema), uma produtividade que nunca o foi possível. É claro que é tudo fake news (para usar uma expressão do momento).

Desculpa você não irá ganhar a medalha de ouro no salto com vara na próxima olimpíada. Sinto muito.

A dificuldade é definir um tempo padrão ou ciclo de máquina (a altura do sarrafo) que sejam reais, que representem aquilo que a produção pode entregar de fato, e claro nesse caso nunca o OEE será maior que 100%, aliás nem irá chegar perto disso na grande maioria da vezes.

Nas duas imagens abaixo temos o gráfico de uma linha de produção super balanceada, o tempo padrão é de 0,30 segundos (rápido não ?), e note que o tempo real também é de 0,30 segundos e a média é 0,31 segundos. O tempo mais otimista (mais rápido) foi  0,27 segundos e o mais pessimista é 0,33 segundos, nada mal.

O uso correto do tempo padrão é fundamental para saber o que está acontecendo de fato no chão de fábrica. É muito difícil conseguir esses dados sem medição automática em tempo real. E se a base dos dados não for correta será como aquele mapa errado, melhor jogar fora.