Nessa cena de Tempos Modernos, Carlitos, o Eterno Vagabundo, está sendo usado como cobaia para a demonstração uma máquina (um robô) que serve o almoço automaticamente. Note que o processo é sofisticado porque a cada comida servida os lábios são limpos automaticamente, um robô com um certo ar aristocratístico. Tudo vai bem até que a máquina sai de controle e não funciona exatamente como planejado. É claro que o gênio de Charles Chaplin está criticando com humor refinado (afinal é um gênio) o excesso de automação, ou o que se pretendia fazer com as indústrias e, principalmente, em relação aos operários. Você pode assistir ao vídeo completo de 4 minutos no final do artigo.

Aproveitei essa imagem para ilustrar o paralelo entre o que estamos falando hoje e o que se colocava ontem.

Hoje temos vários artigos e defensores da utilização das tecnologias associadas a Industria 4.0 quase na mesma quantidade que tínhamos artigos e defensores do Lean Manufacturing antes. A questão que fica é: o processo (Lean) e as tecnologias (Indústria 4.0) podem conviver? Melhor, elas podem se potencializar?

Como já esta colocado na pergunta Lean Manufacturing é um processo e a Indústria 4.0 é um conjunto de tecnologias que podem ser aplicadas ou não em função da necessidade. Dessa forma já é possível concluir que elas podem conviver sem problemas considerando que as duas tem foco na produtividade. Porém algumas questões precisam ser avaliadas.

O Lean, como você já sabe, prega a indústria enxuta com produção puxada pela demanda (além de outras coisas, mas vou considerar a produção puxada nesse artigo). Seguindo esse raciocínio a aquisição de uma nova tecnologia, seja qual for, só faz sentido se a atual capacidade produtiva não estiver atendendo a demanda. Além disso é necessário saber se ao adotar uma nova tecnologia e a demanda reduzir o que acontece com o que foi adotado? Irá gerar desperdício?

Em uma planta enxuta, ou que se está trabalhando com esse objetivo, a introdução de qualquer coisa nova deve passar pela análise dos impactos que podem causar na produtividade e no desperdício de recursos. Por isso o Lean Manufacturing pode ser utilizado como uma ferramenta de controle para o processo de implantação de novas tecnologias contempladas pela Indústria 4.0.

O caminho para uma planta enxuta é difícil e requer um controle contínuo para não retroceder. Tecnologias que permitam adequar melhor a produção ao consumo, como robôs por exemplo, serão sempre bem vindas nesse processo. Um robô pode trabalhar vários dias de forma ininterrupta (pelo menos em tese) ou parar de produzir ou ter a produção reduzida sem que isso cause outros transtornos no processo produtivo, resumindo não existirá problemas com operadores sem tarefas para executar. Isso significa que o uso de robôs é altamente aderente a uma produção enxuta.

Seja como for, a utilização de um processo como Lean representa a implantação de uma cultura no chão de fábrica e a utilização de novas (ou velhas) tecnologias que permitam que a planta seja mais flexível e inteligente vão agregar valor a essa cultura, mesmo novas tecnologias que surgirão e que nem fazemos ideia ainda. Por isso é importante ter um processo de produção, melhor se for baseado no Lean Manufacturig, para tomar decisões, inclusive na adoção de tecnologias da Indústria 4.0.

Como prometido tem a seguir o vídeo da demonstração da “Máquina de Comer”, ou algo assim…